06 setembro 2008

O HOMEM IMPERFEITO

Quando eu era adolescente, tudo que eu queria na vida era um cidadão com a cara de um dos New Kids on the Block. Nem precisava cantar Step by Step. E, aquilo, pra mim, bastava. Bastava ter uma carinha bonitinha, um olhar de anjo e pronto. Tinha ali o meu homem perfeito. O cara pra casar. Depois de um tempo, uma carinha bonitinha apenas não era mais suficiente. O cidadão precisava freqüentar uma faculdade e ter um objetivo na vida, pelo menos. Mas vai chegando uma idade em que os quesitos são tantos que fica cada vez mais difícil encontrar o homem perfeito. O candidato precisa ter: uma carinha bonitinha, um corpinho de passeio, ser um “rapaz de família”, como diria minha mãe, ser um “moço trabalhador”, como diria meu avô. Não pode ser mulherengo, nem, um dia, ter sido galinha (sim, isso está na genética e, portanto, esse gene maldito vai acompanhá-lo por toda vida, ainda que pareça estar adormecido, melhor não arriscar). Homens pegadores dão náusea em mulheres maduras. E a lista de quesitos aumenta em progressão geométrica. O homem perfeito de quando eu tinha 18 anos passou a ser um traste quando fiz 28.

Mas a saga de encontrar o homem perfeito não acabou com meus vinte e poucos anos como acontece com toda cidadã criada no interior. Não me casei com o primeiro traste que apareceu só pra convidar as tias-velhas pro casamento. Só pra dizer pras amigas que consegui casar antes delas. É, pensa que não? Tem muita mulher assim. Acho isso medieval. Da idade da Pedra. Sei lá, não entendo nada de História. Mas acho bem antigo, se quer saber. Acredito em encontrar a pessoa certa. A tampa da panela. Mas não me convence a idéia do ter-que-casar. Não vou ter filhos. Logo, meu relógio biológico não está fazendo a contagem regressiva “case logo antes que seja tarde demais pra ter um filho”. Não tenho pressa. Tenho objetivo.

Talvez então eu tenha escolhido ficar com você por pura vaidade. Sou tão vaidosa que sempre acreditei que eu seria a única mulher no planeta a encontrar o homem perfeito. E, pra confirmar minha teoria, encontrei você e decidi que não te perco de vista nunca mais. Você vai me dizer que não é perfeito. Concordo. Não é. Mas você é perfeito pra mim. Você é o chinelo velho pro meu pé torto.

Descobri que todos os quesitos foram pro saco quando encontrei você. Você está longe de ser o homem perfeito (a essa altura, já descobri que esse “homem perfeito” não existe, como também não existe o príncipe encantado e, muito menos o tal do cavalo branco). Mas eu também não sou a Cinderela. Já beijei muito sapo, mas sabia que nenhum deles ia virar príncipe depois. Descobri que o homem perfeito nem sempre se parece com o galã da tv ou da bandinha pop do momento. O homem perfeito pode ter uma barriguinha de chope, um ou outro fio de cabelo branco que insiste em aparecer, alguns problemas gástricos e uma dúvida gigante em relação ao futuro. O homem perfeito não precisa saber tudo, nem ter solução pra todos meus problemas. O homem perfeito é aquele que passa uma semana me ajudando a encontrar uma calopsita albina fêmea mansa com mais de dois meses de idade. O homem perfeito é aquele que deixa eu cutucar perebas invisíveis no maxilar dele. O homem perfeito é aquele que se preocupa se eu tomei café-da-manhã e almocei direitinho. O homem perfeito é aquele que me empresta sua camisa branca pra eu dormir na casa dele. O homem perfeito é aquele que deixa escova de dente, chinelo e pijamas na minha casa. O homem perfeito é aquele que passa uma semana com diarréia e insiste em achar que o problema é na garganta. O homem perfeito é assim. Imperfeito. Exatamente como você é.