23 julho 2009

AMOR, TATUAGENS, ADESIVOS E A LUCIANA


Estou eu saindo da academia, feliz, quando vejo uma moto parada. Horrível. Não entendo nada de moto não, mas de feio e bonito, eu entendo. E era horrível. Pra piorar a feiúra da pobre coitada da moto, havia nela um adesivo com letras garrafais onde se lia: LUCIANA. Deduzi logo de cara que o dono da moto é mesmo apaixonado por essa Luciana. Pobre Luciana! Foi arrumar um homem com tamanho mau-gosto.

Eu não deixaria namorado meu tatuar meu nome nele. Não acharia graça nenhuma se ele colocasse um adesivo gigante com meu nome onde quer que fosse. Não vejo romantismo nenhum em pichações com declarações de amor e nomes dentro de corações. Mas, quer saber?! Senti uma pontinha de inveja da Luciana. Luciana tem um namorado barango com uma moto velha e um puta mau-gosto, mas que não tem vergonha de mostrar pros outros que ele tem namorada. Luciana.

Tem homem que tem medo de compromisso. Tem homem que tira a aliança pra sair à noite e se passar por solteiro. Tem homem que começa a namorar mas continua sendo solteiro pras peguetis dele, pois ele sequer dará alguma pista. Tem homem que começa e termina namoro e continua prospectando novas interações por onde passa. Aqueles que fazem declaração pública de amor são bregas, Wandos ou jogadores de futebol. Falar de amor é brega. Expor que você ama é brega multiplicado por vinte. E tatuar nomes em partes do corpo só sendo pagodeiro mesmo.

Mas nós, mulheres, precisamos disso. De provas concretas e palpáveis de que somos amadas. Gostamos de ouvir declarações de amor, gostamos de receber cartões, gostamos de serenatas (tá, isso não existe mais e ninguém nunca fez uma serenata pra mim, mas a idéia me agrada), simplesmente gostamos de demonstrações públicas de afeto. A gente gosta de saber que o cara com quem a gente divide a vida não se importa de mostrar pro mundo que ele tem “dona”, de colocar nele a plaquinha de “ocupado”.

Demonstração pública de afeto não tem nada a ver com expor sua vida ou seus amores. Ninguém precisa saber se vocês brigaram ou tiveram uma noite maravilhosa. Ninguém precisa saber quais são seus problemas, se ela tem ciúme ou se ele não liga quando diz que vai ligar. Não to falando de expor a intimidade ou fazer um reality show da vida. Mas para nós, mulheres, seres carentes de amor que somos, as pistas palpáveis são fundamentais. A gente quer ver o Orkut do namorado com o status de “namorando”, a gente quer que ele coloque foto nossa no MSN, a gente quer frases, palavras, cartas e declarações.

Quando a gente ama, quer mostrar pro mundo que amar pode dar certo. Na minha ingênua cabecinha, só uma pessoa totalmente envolvida e livre de qualquer intenção com outra pessoa, pode expor publicamente que encontrou alguém – seja no Orkut, no MSN ou na moto - e que o posto de namorada não está mais disponível. Não sou a favor de tatuagem com nome de namorada, mas isso é só um gosto pessoal. Não sou a favor de motos ou adesivos e isso também é apenas um gosto pessoal. Pode me chamar de louca. Mas, pra mim, amor tem a ver com exclusividade, com abrir mão de todo resto e (por que não?) com tatuagens, adesivos e outras formas de comunicação. Felizes as Lucianas.

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Queridos, obrigada pelos e-mails fofos e carinhosos como sempre. Muito bom saber que, de alguma forma, eu ajudo a formar opiniões e cabeças pensantes nessa vida!

Ah, e a comunidade no orkut com quase 600 pessoas!!! Tchau, morri pra sempre!!!!!!!

09 julho 2009

A MINHA DOR

“Smile though your heart is aching”.
(Charlie Chaplin)

Minha dor, guardo comigo. Aprendi a ser assim desde muito nova ainda. Você pode me olhar e não fazer a mínima idéia do que se passa aqui dentro. Você pode achar que estou feliz ou que acabei de ganhar na mega-sena quando na verdade acabei de perder uma pessoa que amava. Choro quando escrevo e escrevo quando quero chorar. Minha história ninguém conhece. Minhas agonias, meus amores perdidos, meus desencontros com o meu próprio mundo. Guardo comigo.

Não sei se isso é bom ou ruim. Tem gente que diz que falar ajuda a “colocar pra fora o que te faz mal”. Como vomitar em alguém. Despejar um balde de lixo na cabeça de alguém que não tem nada com isso. Não gosto dessa idéia. Sou meio homem nessas horas. Prefiro entrar na minha caverna, ficar muda sem falar com ninguém e resolver o assunto na minha cabeça. Coisas que aprendi numa cidade pequena onde as pessoas precisam viver de aparência. Estar, a todo momento, mostrando que está tudo bem, que a vida é boa, que o amor é lindo, que ninguém tem problemas em casa. Aprendi muito cedo a disfarçar minha dor.

Hoje não aceito qualquer coisa. Já aceitei demais. Não tenho que aceitar mais nada que alguém queira me impor sem meu consentimento. Aceitei calada as mazelas da vida, que desciam arranhando goela abaixo. Não aceito mais nada. Desculpe, não posso mais. Dói. Fere. Corta. Mas depois cicatriza. E toda cicatriz é uma pele mais forte. Mais resistente. Menos sensível. Segundo a Wikipédia, a cicatrização alivia a dor do corte, pois a pele se fecha novamente e só fica a marca do machucado. Concordo. Alivia a dor e depois fica a marca do que foi machucado.

Não aceito que me julguem sem me conhecer. Não aceito que me conheçam pelo meu sorriso ou pela falta dele. Se eu te contar minha vida, ouça sem me interromper. Não me dê conselhos, pois o que você terá ouvido são apenas histórias e não sentimentos. Demonstre compaixão, mas jamais tenha dó de mim. Não vou me fazer de vítima, muito menos assumir uma culpa que não for minha.

Não me diga onde errei. Eu sei. Conheço meus acertos mais louváveis e meus erros mais repulsivos. Se der errado, vivo meu luto de novo. Não me importo. Vai doer. Vai ferir. Vai cicatrizar e formar uma casquinha que depois sai só de passar a mão de leve como quem toca um mosquito do corpo. Bem ou mal, minha história me fez ser quem sou. Viveria cada segundo de novo como se fosse uma despedida. Talvez eu cometesse os mesmos erros. Talvez eu cometesse outros erros. Mas jamais passaria impune até aqui. Cada um sabe da sua história e só isso importa. Por isso, guardo comigo minha dor, minhas agonias e meus pesadelos mais tenebrosos. Divido as alegrias, as conquistas e os sonhos mais altos. Escrevo sobre o que eu sinto. Escrevo como uma forma de despejar meu lixo na cabeça de alguém. Acho mais limpo e igualmente purificador. Escrevo porque dor não cabe no papel – ou eu não saberia explicar. E dessa forma, minha dor continua só minha. Guardo comigo.

Foto: olhares.com