01 maio 2009

DO QUE NEM EU ENTENDO

Vivemos esperando. Vivemos nos frustrando. Vivemos nos frustrando porque vivemos esperando. Vivemos olhando para o futuro e criando expectativas de que vamos encontrar a felicidade em um lugar que ainda não chegamos. A tal felicidade está sempre no pote de ouro no final do arco-íris que não chega nunca. A felicidade está no dinheiro que eu não tenho, no corpo que eu nunca vou ter, no carro que eu não dirijo, no amor da minha vida que é o amor da vida de outra. Mas e quando a gente consegue o corpo que a gente queria, o emprego dos sonhos, o amor pra vida inteira? Pra onde vai a felicidade que nunca chega? Por que é que a gente está sempre achando que falta alguma coisa pra ser feliz, mas essa alguma coisa está sempre naquilo que a gente não tem?

O ser humano quer aquilo que ele não pode ter. Ouvi isso esses dias e concordo totalmente. A gente vive na eterna busca para permanecer vivo. Estamos sempre atrás de algo que está sempre distante. Criamos expectativas irreais. Criamos modelos de felicidade baseados em um padrão ideal. Buscamos a felicidade na perfeição. O melhor emprego, o melhor casamento, a melhor família. A gente tem que ser bem-sucedido, a gente tem que casar e ter filhos antes dos 30, a gente tem que ter filhos. Falsos modelos de sucesso criados pela sociedade e por nós mesmos. Sucesso é ter um emprego milionário, mesmo que você abra mão da sua vida pra ganhar dinheiro (tenho uma amiga morando num lugar onde ela não conhece ninguém, acorda às 5h20 da manhã pra trabalhar, volta pra casa às 23h20, trabalha de segunda a segunda, não namora há dois anos, mas ta fazendo seu pé-de-meia). Sucesso é ter um casamento por 30 anos, mesmo que você durma no sofá há 23. Sucesso é ter se casado antes dos 30 mesmo que você tenha se casado com um pangaré qualquer pra contar pras suas amigas que você encontrou o homem da sua vida. Sucesso é ter filhos mesmo que você não tenha a mínima vocação pra maternidade e que não tenha um pingo de paciência com crianças. Sucesso é uma palavra criada pelo ser humano pra definir uma coisa qualquer que você precisa ter ou ser, que nem você mesmo sabe se queria ter tido ou sido.

A gente se frustra porque o final do arco-íris nunca chega. A gente se frustra porque mesmo com o melhor emprego, a melhor família, o melhor casamento, os melhores amigos, os melhores tudo, não nos consideramos felizes. E continuamos achando que a felicidade está naquilo que não temos. Felicidade é a nossa busca interna. Que nunca tem fim. Sucesso é um rótulo criado pela sociedade, pela mídia ou por qualquer outro nome que se queira dar para conceitos que são enfiados nas nossas cabeças desde pequenos, feito uma lavagem cerebral. Felicidade e sucesso são caminhos que nem sempre se cruzam.

Largamos nossas carreiras de músico, bailarina, ator, pintor, porque isso não dá dinheiro. Largamos nossos sonhos, nossas vocações, aquilo que realmente sabemos fazer, para fazer uma faculdade de direito, de engenharia, de medicina porque é isso que aprendemos que dá dinheiro e sustento na vida. Não nos casamos aos 18 porque somos muito novas, e nos precipitamos em ser certeira aos 35 porque já passou da hora. Qual é essa maldita hora? Qual é essa infeliz fórmula da felicidade? Quem escreveu as regras do sucesso? Eu vou ser infeliz se aos 30 não tiver achado o homem da minha vida? Se eu nunca quiser ter filhos. Se eu for morar na praia. Se eu virar hippie. Se eu não ganhar dinheiro, mas fizer aquilo que eu gosto. Eu vou ser uma pessoa pior pra quem? Pra mim mesma ou pro resto do mundo? Ter sucesso de verdade é ser feliz do seu jeito.